sábado, 25 de outubro de 2008

Primeiras impressões

COTA ZERO
"STOP.
A vida parou
ou foi o automóvel?"


Carlos Drummond de Andrade


A contemporaneidade tem lá seus caprichos. Vivemos numa época que expurga a solidão, que torna o estar-só uma espécie de doença, tão mortal quanto fora a peste bubônica na idade média e a Gripe Espanhola há poucos anos atrás. Basta ver o sem-número de livros de auto-ajuda que buscam uma cura para o mal da solidão. A cultura ocidental, cada vez mais, vai acentuando essa integração entre as pessoas, retirando de suas pautas momentos de reflexão e de auto-conhecimento. Não há tempo para pensar em si mesmo, no sentido mais profundo da expressão, pois estamos confinados num ambiente semelhante ao contado por Dostoiévski em sua obra "Recordações da Casa dos Mortos", no qual o pior martírio aos presos era não dispor de um momento de isolamento.


É seguindo tal pensamento que darei início a esse blog. Mesmo fazendo parte desse frenético mundo, consigo encontrar pequenas centelhas de tempo para uma reflexão sobre mim mesmo e sobre o mundo e é nesse singelo espaço que tentarei compartilhar com meus esparsos leitores minhas vivências, indagações e conclusões. Se não podemos estar sós, por que não compartilhar esses ínfimos e magistrais momentos com o mundo? A solidão é um bem escasso e caro, nas palavras de Drummond:


"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade"


Dessa forma, a sós, mas com todo o mundo a me observar, tentarei não apenas exercitar minha capacidade reflexiva, mas também minha escrita, pois segundo o Mestre Lourival Holanda a arte de escrever está no amadurecimento e no afinco do escritor. Que comecemos então essa labuta!

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