sábado, 29 de novembro de 2008

Ah! Enfim, o amor...

"O amor é uma agonia, vem de noite, vai de dia, é uma alegria e de repente uma vontade de chorar"


Chega de divagações, vamos a um pequeno exercício literário.

Canção febril


“No amor basta uma noite para fazer do homem um deus.”

- Propércio.


Cesso por um instante meus afazeres para dedicar-me um pouco a ti, mulher tão complexa e inexplicável que até aos deuses faz-se irresoluta, que corrói minha mente com seus mistérios e enigmas indecifráveis; mulher cuja qual os poetas entoam os cantos e a filosofia denota preocupação, és o maior enigma do mundo mulher!, és o rebento da união de todas as divagações humanas com os suspiros de sua dor, és tão carnal e tão pura que se tornas luz.

Qual Da Vinci não inveja os contornos de teu sorriso a gritar de despeito que suas obras trazem mais mistério? Passeias pela História amedrontando os homens que menos temem a morte que o teu olhar. Inspiras literatos, loucos, profetas, mágicos, vilões e não és mais que sombra, delgada e furtiva. Pensas que me enganas com teu dissimulado amor? Não!, sou fugitivo de mim mesmo e tento te esquecer pois és uma esfinge que tem para mim voltada a face no intuito de devorar-me a alma. Mas teus beijos... Ah! Que me esqueça de todos! E na impossibilidade do esquecimento que me tirem a vida por misericórdia, caso seja insuficiente, que me vendam o espírito, joguem sal à minha terra, esquartejem meu corpo e espalhem suas partes onde teus pés pisarem, assim poderei me ver livre de ti.

Quantos Césares não choraram a desgraça que a eles acometeste? Sou mais um, encantado por teus olhos egípcios, por tua boca silenciosa e ardente, por teus gestos leves e lânguidos, pelas noites de volúpias ingratas despejados no mar de meus brados incompreensíveis. Sou mais um, ludibriado pela lua lépida que mascaraste no teu céu de impossibilidades cujo qual tomei por real. Nunca saberei se fostes minha, pois nunca nem eu a mim mesmo pertenci.

Mas e o sangue derramado por ti? As lágrimas vertidas dor? Os suores nos falsos leitos de prazer? Quem trará a paz em peito repleto de tormentos, quem pagará a conta dos danos que me cobra a vida? Não te encontro mais. A alcova vazia, os vestidos jogados ao chão, teu perfume ainda impregnado em minha roupa – tudo é enlouquecedor. Assim a intolerância do tempo torna-se cada vez mais torturante, os segundos marcados de desalento choram tua ausência e meu peito febril urge por sossego.

Já ouço o fero canto do inferno com prazer, este que desvanecida não relutas em soprar, enxertando em minhas entranhas o rubro logro de teu quimérico amor. Mas não te quero! És hoje devaneio e outrora não fostes mais real. No entanto, espero o assomo de teu corpo qual Lázaro para que eu possa voltar de meu senil degredo, onde de tão terrível a morte corre atordoada. Espero, com o ardor de um assassino, com o desejo vibrante de uma virgem, assim espero teu regresso. Não sei se para velar teus seios ou decepá-los; nem sei se para colher teu suor ou teu sangue.

Tu, que por amar a arte tão loucamente deixava-me enciumado; a aura febril que vinha encobrir nossas noites veladas por prazer era de cores tons e combinações que artista algum foi capaz de reproduzir. Teus suspiros sinfônicos, repletos de uma harmonia divina, eram deliciosos. Ah! O que tem o sexo e a arte para assim ludibriarem a alma do homem? Há uma fuga do real qual o nirvana, somos tragados do mundo e jogados a uma nova dimensão totalmente dispersa e mística. E tu, que por tantas luas ao meu lado dormiste, eras a ninfa inspiradora desses dois grandes dons presenteados à humanidade.

A fábrica começa a buzinar, esvai-se tua imagem em meus pensamentos, fecho o livro, o afã é meu destino, tu és minha graça e meu sofrimento. Enquanto não vens, caminho só.


Paulo Fernando de Lima Oliveira

10 comentários:

Fran* disse...

Ah menino..que texto,que coisa boa de se ler..Gosto muito do jeito como usa as palavras,transformando td em uma experiencia suave,um jeitinho delicioso de viajar com as letras!
Beijos

Anônimo disse...

Gostei muito do cenário do texto, eu pude passear por todas as palavras e visualizar cada detalhe das cenas. Muito bom, gostei também das comparações, tens um ótimo vocabulário. Você também escreve muito bem.
E sobre teu comentário no meu blog, também concordo que tanta subjetividade, isso acaba dispersando o leitor. O problema é que costumo escrever o que está na mente, algo do tipo "fluxo de consciência". Então, coloco-os no blog. Enfim... é algo muito particular, mas conta muito opiniões de leitores, sempre. Obrigada!

Abraço e bons escritos!

Isabela Bentes disse...

que amor arrebatador.
perfeito.

~ a Juh! disse...

Que maravilhoso isso! :') ÉR ao mesmo tempo transparente por demonstrar tão bem os sentimentos e misterioso por instigar a curiosidade. Me fez viajar =)

Beeeeeeeeijos

~ a Juh! disse...

Oi Paulo =)

Como passou de festas?

Tem presente pra vc lá no meu blog ;D

Beeeeeeeeijos

Ana Gabi disse...

Texto super legal, viu?! Vc escreve com muito lirismo...

Gostei do seu blog!

;)

Nanda disse...

;p

~ a Juh! disse...

Te indiquei pra um selo no meu blog. Passa lá pra ver ;)

Beeeeeeeeeeeeeeijos

Anônimo disse...

Estou boqueaberta! Uma visão peculiar (e muito bela, cheia de controvérsias que fazem sentido), que não se vê em qqer lugar e não de ouve de qualquer pessoa...enfim alguém que não vê/ descreve a mulher como submissa, "Amélia" ou inferior...palavras escolhidas a dedo, provavelmente, e muito bem colocadas!^^
Tem selos pra vc no meu blog!!
Abraços!

Márcia Lima disse...

Paulo!
Você ou as suas palavras?!?!?!
Tudo q você escreve é quase perfeito assim tipo você.Só não cometo o pecado de falar que vc é perfeito porque perfeito só Deus(o meu),mais não sei se é por que eu estou completamente apaixonada ou pq está realmente mágico!
Eu sou suspeita de falar mais suas palavras são envolvente!
Te amo muito hoje e para sempre.
Meu Paulety.